Afinal, quem inventou o rádio?
2009
Luiz Artur Ferraretto

A pergunta vem e vai. Aparece sempre em alguma aula ou em um bate-papo do qual participe um ou outro curioso mais ou menos informado, mais ou menos nacionalista. Há os antigos que dizem, categóricos: foi Guglielmo Marconi. E, em várias cidades brasileiras, por onde imigrantes italianos fincaram novas raízes, está lá um busto do cientista e empreendedor nascido em Bolonha. Foram colocados em praças públicas, em geral, lá pelos anos 1930. Nos últimos tempos, resposta mais frequente indica o gaúcho Roberto Landell de Moura. Ambas as versões, no entanto, remetem à tecnologia. E esta servia, lá na virada do século 19 para o 20, à telefonia sem fios e à comunicação entre navios ou batalhões do exército em cenários de conflito militar. Quem inventou o rádio, o meio de comunicação, foi um russo, de origem judaica, radicado nos Estados Unidos. Seu nome: David Sarnoff.

David Sarnoff (anos 1950)
Fonte: LYONS, Eugene. David Sarnoff. Nova Iorque: Harper & Row, 1966. p. 180A.

Funcionário da Marconi Company, dos Estados Unidos, é ele que antevê, com precisão, as possibilidades da nova tecnologia. Se a ideia original era ultrapassar distâncias, interligando seres humanos nas duas pontas de uma conexão basicamente telefônica e por ondas eletromagnéticas, Sarnoff pensou em colocar para dezenas, centenas, milhares de pessoas, uma mesma mensagem, de início, musical, cruzando o espaço e chegando em singelas “caixas de recepção”. A proposta, um documento histórico, foi colocada em um memorando enviado aos seus chefes em 1916:
Concebi um plano de desenvolvimento que poderia converter o rádio em um meio de entretenimento doméstico como o piano ou o fonógrafo. A ideia consiste em levar a música aos lares por meio da transmissão sem fios.
Mesmo que isto já tenha sido tentado no passado mediante o uso de fios, seu fracasso deveu-se a que os cabos não se prestam para este fim. O rádio, ao contrário, faria isto facilmente. Poder-se-ia instalar, por exemplo, um transmissor radiotelefônico com um alcance compreendido entre 40 e 80 quilômetros em um lugar determinado em que seria produzida música instrumental ou vocal ou de ambos os tipos… Ao receptor poder-se-ia dar a forma de uma singela caixa de música radiotelefônica, adaptando-a a vários comprimentos de onda de modo que seria possível passar de uma a outra apenas fazendo girar uma chave ou apertando um botão. 
A caixa de música radiotelefônica possuiria válvulas amplificadoras e um alto-falante, tudo acondicionado na mesma caixa. Colocada sobre uma mesa na sala, fazendo-se girar a chave escutar-se-ia a música transmitida… O mesmo princípio pode ser estendido a muitos outros campos, como por exemplo escutar, em casa, conferências, que resultariam perfeitamente audíveis. Também poder-se-ia transmitir e receber simultaneamente acontecimentos de importância nacional.
Como tantas outras grandes ideias, acabaria, de início, sendo ignorada, ainda mais naquele momento de produção voltada ao conflito mais tarde conhecido como Primeira Guerra Mundial. Sarnoff, no entanto, dera a partida para o surgimento do meio de comunicação de massas que viria a se tornar, nos anos seguintes, o rádio.

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